29 janeiro, 2011

Espero... (Escrevendo) Espero para ficar doido.

Nesta cidade, para mais uma noite ficar perdido.

Nao lamento, nao tremo, nao descanso,

Apenas me pergunto, porque me canso?


Tantos tapetes vermelhos, cor do vinho,

Tantos episódios de riso e de choro,

Tapetes suaves, voadores, que sinto tanto carinho...

Sempre com vozes que gritam. Gritam todas em coro:


“Vai-te embora! Vai-te e nao voltes,

Só vieste para o teu velho canto,

So vieste para que te revoltes,

Para todos deixares em pranto.

Vai-te! Vai-te embora e nao voltes”


E espero… (Bebendo) Espero para ficar doido,

Nesta cidade ou numa outra, fico perdido.

E nao lamento, nao tremo, nao descanso,

Apenas me pergunto, porque me canso?


Será a pele? Será o conforto?

Nao pode ser. Pois nao há barcos neste porto.

Será pela dor? O desafio?

Entao porque é que este amor é tao frio?


Eu sei que elas querem que nao haja calor,

Querem que desista do caminho do amor,

E quase que conseguem o meu abandono,

Quase… Porque ainda nao mandam no meu sono.


Por isso espero… (Tentando amar) Espero para ficar doido,

Neste quarto ou num outro, fico perdido.

E nao lamento, nao tremo, nao descanso,

Apenas me pergunto, porque me canso?


Podia ser indiferente a tudo isto,

Podia, mas nao sou feito desse material.

Sou feito de sol, de água, de xisto.

Amo de uma forma natural, excepcional, normal.


Mas, merda! Sei que nao é suficiente.

Pois as vozes nao deixam que seja.

Mas nao vou ficar indiferente,

A tudo aquilo que sobeja.


Por isso espero… (Olhando as horas) Espero para ficar doido,

Neste mundo ou num outro, fico sempre perdido.

E nao lamento, nao tremo, nao descanso,

Apenas me pergunto, porque raio, é que me canso?

06 outubro, 2010

Se havia alguem corajoso, esse alguém era o João.

Disposto a qualquer disputa, começava sempre o dia, a olhar a sua própria imagem no velho e grande espelho herdado da sua querida avó. Este espelho, foi colocado estratégicamente, do milimetro ao centimetro, de maneira a que quando João se levantasse da cama, pudesse visualizar, criticar, julgar, o seu próprio corpo. Um corpo franzino, sem robustez, sem, como ele costuma dizer, "sem ponta por onde se pegue".

Refeito do embate matinal, avançava prontamente para o seu inimigo. Todos os dias, fascinava-se com a sua própria imagem que ia aumentado, assim que se ia chegando, chegando e colando, testa com testa, nariz com nariz. Neste momento fechava os olhos e dizia baixinho, " Promete que um dia, alguém escreverá o teu nome numa árvore". Como nunca tinha qualquer resposta, abria os olhos, e ainda com alguma dificuldade para voltar a focar qualquer imagem, entretia-se fazendo caretas, tornando aquela imagem do João ainda mais feia do que na realidade.

Passado o carnaval matinal, ia de imediato para outro espelho, este mais pequeno, mais singelo, até parecia que reflectia um outro João. Talvez porque este espelho tinha sido comprado num hipermercado. Tinha-o visto numa promoçao, num folheto que se encontrava no banco do comboio, e por coincidencia, aquele era o último dia daquela excelente oportunidade. Mais impressionante ainda foi, quando levantou a cabeça, e olhou para a janela, o hipermercado estava bem a sua frente. Num impulso, saiu imediatamente nessa estação. Nesse dia chegou mais tarde a casa, mas tinha valido a pena, tinha comprado um outro espelho. Talvez com a ideia, ou com a esperança, de reflectir um novo João.

Curiosamente neste espelho, nunca dava demasiada importancia aos pormenores da sua cara, fazia toda a sua higiene diária de olhos postos no espelho, mas este tempo passava, passava e nunca se lembrava de nada. A sua actividade cerebral voltava somente a manifestar-se, quando ouvia as portas do comboio a fechar. Todos os dias, procurava ver se reconhecia alguém de outros dias, de outras viagens. Na verdade, queria ter um companheiro de viagem. Ele próprio reconhecia isso mesmo. Houve até uma vez, que a sua primeira frase do dia foi, "Promete que um dia, encontrarás um companheiro de viagem". Assim, e após desse descuido, decidiu procurar diáriamente pessoas, caras, para que podesse de alguma forma simular, a sua solidão.

Desde os seus 23 anos, após a morte da sua querida avó, decidiu enfrentar a vida como ela é. Sem medos, sem o "encolher de ombros". Sabia que não tinha nascido com sorte, sabia também que não tinha tido sorte no decorrer da sua vida, mas não tinha deixado de tentar encontrar o seu próprio caminho. Para provar isso, entrou em vários projectos na sua vida, representou vários papeis, mudou várias vezes de carreira. E agora com 38 anos, preparava-se para iniciar um novo desafio. O desafio de ser o João do Espelho Pequeno.

Nas manhãs seguintes áquele encontro, deixou de haver Carnaval, deixou crescer a barba. E caminhou. Caminhou até as suas pernas não aguentarem mais, e depois pôs-se a boleia. E quando pela primeira vez viu um carro a parar... o seu coração tambem acompanhou esse movimento. Quando o carro e o seu coração pararam, num segundo houve esperança, e de uma forma calma, tranquila, foi de encontro ao seu futuro.

Se há alguém corajoso, esse alguém é o João.

08 agosto, 2010

De repente, viu-se ali. Ali, sem saber onde estava. Não fazia a menor ideia onde era o Norte ou o Sul, Este ou Oeste... Não! Isso, também é demais. Mas pelo menos fingiu que não sabia. E como sabemos, isso já é muito bom.

Mas estava confuso... Era demasiado barulho. Eram demasiadas cores. Demasiadas vozes. Por isso, preferiu estar sozinho. Num instante, fechou-se numa bolha em que nada ou ninguém penetrava. E por isso também, começou a Chover.

No primeiro segundo, era uma chuva miudinha. No segundo, chovia torrencialmente. E o barulho aumentou. As cores multiplicaram-se, e as vozes... Calaram-se.

Fora daquela bolha, todos se queriam proteger. Todos procuravam abrigo. Mas ele preferiu ficar imóvel que nem uma estátua. Fechou os olhos e procurou o sol.

Aproveitando uma ligeira brisa que vinha de Norte, sentiu o cheiro do alecrim. E sentiu-se com o direito de mandar, nem que seja só desta vez, na rosa dos ventos.

Alecrim, alecrim aos molhos. Como manda a canção e começou a chorar. Não! Isso, também é demais. Mas pelo menos correu umas lágrimas. E como sabemos, isso já é muito bom.

Rosa Maria é nome do Alecrim, no jardim onde se encontra. Rosa Mariaaaa?!? Não entende. E porque não entende, chama, sempre de olhos fechados, o vento de Este.

Ahh! O vento de Este não espera nem um milésimo de segundo e traz-lhe o cheiro do Sexo. Do Sexo? Porque sempre o Sexo? Mas o que é certo, é que lhe trouxe todas as recordações do passado. Não muito longínquo. Mas quando se fala em Sexo, mais que 1 mês, uiii, é tãoo longínquo. Passo a passo. Mulher a mulher. Sensações a sensações. E não sentiu nada. Não! Isso, também é demais. Mas pelo menos sorriu. E como sabemos, isso já é muito bom.

É verdade! Sorriu. Um sorriso igual a um pôr do sol. Enorme. Grande. E porque nasceu à beira mar, a poente, no Oceano. Sentiu o cheiro do Mar. Do mar... Saudades do mar. Saudades (tantas) do mar. Aquele que lava, que lavra a nossa alma. Que humedece os olhos, até daquele que diz que não chora, porque não tem alma. Mas não estranhem... As rochas têm alma?!?

Não, não têm. Mas têm Sal. Têm mesmo Sal. E é tão raro encontrar Sal. Pelo menos na rua onde moramos. Há quem tenha livros, para encontrar o melhor Sal. Eu tenho. Como o tenho? Apenas tenho. Porque é que tenho? Tenho. Mas porque continuam a perguntar? Não continuam? Sou eu? OK. Falta o Sul.

Sul? Calor.

Por mais que se esforçe, não o consegue. Pede a todos os Santinhos, e nem mesmo assim o consegue. Consegue que o protejam. Que devolvam o que é dele. Mas calor? Não! Isso, também é demais. Pelo menos no jardim onde se encontra. Mas por vezes, corre uma brisa quente à noite. E como sabemos, isso já é muito bom.

Em vez de calor, vem um som de um piano. Que traz a musicalidade da Morte. Da Morte? Abre os olhos. Que merda! A Morte. Porque a Morte? Porque é que sorrimos enquanto vivemos?

Fecha os olhos, acende um cigarro que vem de Leste, esforça-se para cheirar o mar, o alecrim, ou a Rosa Maria, como queiram, mas o cheiro moribundo continua.

Mas é o Piano que toca. E por favor... respeite-mos o Piano, A Morte, a Vida, a Rosa dos ventos! Por favor... Por favor!


Por favor... Sintam. Não! Isso, também é demais. Mas pelo menos, finjam que sintem. E como sabemos, isso já é muito bom.

(Desculpa não ter estado aí)

06 maio, 2010

- Trazes-me esta alegria que não sei explicar!

- De verdade?

- Sem dúvida. Há muito tempo que não me sentia tão dentro de mim. Contigo, fico no silêncio. Fico contente por estar, mas também por partir. E o teu canto, é indiscritivel. O teu olhar penetrante. Não preciso de palavrões, aliás, não preciso de palavras sequer...

- ...

- Vês? É isto que digo. Fechas os teus olhos, esboças esse sorriso... e tudo fica em suspenso. Eu sei que não foi fácil para ti, que procuras o que os outros também procuram. E hoje, como o mesmo sabor deste café... Sei que te vou encontrar novamente.

- Au revoir!

- Au revoir!

Faltam poucos minutos para entrar de novo na espiral de palavras. Palavras que todos me irão entender, mesmo que esteja no silêncio. E sinto, que nunca saí de lá. Daí. Daqui.

Oiço esta linguagem, e não a quero ouvir. Porquê?

Talvez porque ainda estou farto.

O sorriso (nervoso?) de uma viagem... Um salto para o desconhecido, para fugir ao conhecido.

Volto-me para trás. Quero vê-la novamente.

Digo " Au revoir! ", baixinho, muito baixinho.

 

23 janeiro, 2010

Escrevo. Apago.

Digo. Não me ouvem.

Quem quer que escreva, que sentimento têm por mim?

Quem quer que fale, o que querem mesmo ouvir?

Escrevo. Apago.

Digo, vezes sem conta. E o que resta? Silêncio.

Vou contar uma estória. Não é muito longa. Aliás, nem sou eu que vou terminá-la. Eu tenho um fim. Mas como disse, não me ouvem. Prefiro ouvir outras versões. Pode ser que eu oiça.

"Era de tarde, e por mais que os especialistas dissessem que era Inverno, aquela tarde, era de Verão. O calor que se fazia sentir, e por ser Domingo, dava a todas as famílias a oportunidade de levar os seus filhos para a praia.

Mariana, mãe solteira, levou Inês para aquele maravilhoso pôr de sol na praia da Falésia. Desde o almoço, Inês não parava de pedir a sua mãe para irem à praia. Ao princípio Mariana negou, alegando estarem no Inverno e não ser tempo para diversões ao ar livre e acrescentou:

-Não podemos, Inês. Tu vais ver que daqui a pouco, o tempo vai mudar. Vais ver que daqui a pouco chove.

-Mãeee, ma tá caour!

-Está calor sim, mas não podemos, é Inverno. – Fez um pausa - Vá! Vamos tomar um banhinho para refrescar.

Inês que adorava tomar banho, logo concordou. Foi a correr para o quarto buscar os seus brinquedos preferidos, e disse, olhando para o baú cheio de brinquedos:

- Hoji, o pato fica a domi. Hoji, só vai o baquinho.

Depois do banho, Mariana decide pôr um filme no DVD, para entreter Inês enquanto fazia a lida da casa. Deixou-a escolher o filme, assistiu Inês a colocar o filme no DVD, e foi para a cozinha. Passado algum tempo, sentiu que este dia parecia não querer acabar. E foi no preciso momento em já tinha limpo a cozinha toda, que transpirada, ouviu Inês da sala ao lado. Desta vez com uma voz rouca.

-Mãeeeee, tá caour!

Limpando o suor da testa, disse decidida:

-Vá! Vai lá vestir o teu fato banho. Vamos à praia!

Escuso de descrever os risos, gritos, pulos que Inês fez no caminho para o quarto. Toda esta emoção durou até ao momento, que colocou os seus pézinhos na areia quente quando, olhando para a mãe com um olhar triste, disse:

-Mãeee, tá quenti a aeia.

Mariana concordou, fazendo o gesto para a pegar ao colo, explicando que à beira mar estaria bem melhor. Inês sorriu e deixou transparecer pelo seus olhos de novo toda a emoção.

Mariana, durante o trajecto até á praia, lembrou o tempo de quando tinha a idade da Inês. Por este mesmo motivo é que escolheu a praia da Falésia. A sua praia de infância. A praia que conhecia como a palma das suas mãos. Esquecendo, como todos, que estas ao longo do tempo, também vão mudando. No entanto, sentia-se segura nesta praia. E isto numa mãe, faz toda a diferença."

Apago? Não.

"Pararam perto de umas pessoas. Ainda antes da areia molhada da beira mar, mas suficientemente fresca para Inês ir para o chão. Pousaram as mochilas, e rápidamente Inês corre para perto de àgua. Mariana assustada, grita de imediato:

-Inês! Vem já para aqui.

Inês pára de repente. Vira-se para a mãe, que responde bem mais calma.

-Primeiro, temos que tirar a roupa. Segundo, temos que colocar protector. E depois, estás a ver aquelas ondas? Estão muito perigosas, temos que ter cuidado.

Aquele grito, como é lógico, chamou a atenção das tais pessoas. Um casal jovem, perto dos seus 25 anos. Mariana, no entanto, já tinha soprado com bastante força, 34 vezes.

Rita, uma das pesssoas, logo comenta:

-Temos mesmo que ter cuidado. Eles são um perigo. O meu João fez o mesmo. Está ali... – Apontando para a frente, fazendo que Mariana, Inês e Paulo, o outro das pessoas, olhassem na direção do seu dedo. – a brincar aos castelos. Depois das coisas que a mãmã te disse para fazer, podes ir brincar com ele, queres? – Dirigindo o olhar para Inês.

-...

-Vá, não sejas assim tão envergonhada. Já viste a tua sorte? Mal chegas à praia, já tens um amigo para brincar. – Interrompeu Mariana o silêncio da sua filha.

-...

-São sempre assim. – Interviu Paulo.- Ao principio são sempre envergonhados, depois temos sempre que os mandar fazer menos barulho. – Fazendo rir os três adultos. Inês continuou muda.

Durante toda a rotina, o tirar da roupa,o colocar outra vez do chapéu, o ajeitar do fato banho, a procura do creme na mala, a colocação do creme, Inês não tirava os olhos do João. Ele, totalmente distraido no seu castelo, não tinha dado por nada.

Depois de pronta, e depois de ter o consentimento da mãe, dirigiu-se novamente para a beira mar. Desta vez, com o passo mais calmo. Sabia que os adultos continuavam a falar, mas ela já não ouvia nada do que diziam.

Chegou-se perto do castelo do João, e sentou-se.

-Cuidado! – Disse João com uma voz de comando.

-Decupa. Como chama o teu catelo?

-Como se chama o meu castelo? Os castelos não têm nome. Os castelos são dos reis. Eu,- Pondo-se de pé e colocando a mão no peito.- sou o Rei João. E tu como te chamas? – Apontando para Inês com o dedo bem esticado.

Inês sorriu. Colocou também a mão no peito branco de tanto creme que tinha, e respondeu.

- Inês. – Abrindo ainda mais o sorriso, continuou - Também pôdo sê ainha?

-Hum! – Acenou com a cabeça, e continuou. - Podes ser! Mas para isso temos que te construir um trono. Porque os reis têm castelos e as rainhas têm que ter um trono. Sabes fazer um trono? – Perguntou outra vez com voz de comando.

- Não. – Respondeu, fechando o sorriso.

João baixa a sua voz e sorri.

- Eu também não. Eu só sei fazer castelos, mas podemos tentar.

Inês volta a sorrir, e João retoma a voz de comando.

- Ah! Mas se não ficar bem, depois não digas que está feio. Ou... que eu não fiz bem. Tá bem?

Inês já não ouviu o que João dizia, entusiasmada com a ideia de ter um trono, mas continuando a sorrir, disse que sim na mesma.

O sol tinha já começado a desaparecer, mas ainda assim, o dia continuava quente. Mariana, a Rita, o Paulo e todas as outras pessoas, aproveitavam aquela tarde de praia Inverno – Verão. Observavam, vigiavam de longe aquelas duas crianças sem saberem o que elas estavam determinadas em fazer. E sorriam, falavam do quotidiano. Todos sabiam, que o mar estava bravo, que as ondas com o descer do dia ficavam cada vez mais fortes. Bem mais fortes do que quando chegaram.

Mas para Inês e João as ondas não eram problema, aliás para eles não havia ondas, pessoas, sol, gaivotas, ou pombos. A única coisa que interessava era, como fazer um trono.

João tomou primeiro a iniciativa. Saltou bruscamente para perto de Inês, que até fez desmanchar um pouco do muro do seu castelo, mas ele, nem deu conta. Inês por ser lado, estava com os seus olhos a brilhar, à espera de que João começasse a fazer alguma coisa.

Viu-o a abrir um grande buraco na areia, que ao mesmo tempo lhe pedia para ir procurar conchas, ao que ela acedeu satisfeita. Não era preciso deslocar-se muito, visto que, naquela praia havia até bastantes. E quando voltou, já João tinha usado toda a areia daquele buraco para construir um enorme monte. Pediu-lhe para se sentar de frente para o mar, e que colocasse os pés no tal buraco. De seguida moldou o monte para o corpo da sua nova rainha, e foi cobrindo-o com as conchas que Inês tinha seleccionado.

Mas João não as achou suficientes, e disse:

-Espera ai... Vou buscar mais conchas.

Inês, ainda com os olhos brilhantes, concordou. Respirou fundo, satisfeita. E olhou para a grande onda que se formava lá ao fundo no horizonte. Onda qual, o sol já quase não iluminava."

Suspendo. Espero...

15 dezembro, 2009

2 minutos para nascer um novo dia e mesmo assim acendeu as luzes do quarto.

Queria antecipar o nascer das suas sombras. Queria duplicá-las. Controlá-las.

- Afinal, o que querem de mim? – Sussurou. – Estou aqui. Ainda estou aqui.

Baixando o seu olhar, um gesto habitual de quando está só, conta os pedaços de papel já caídos. Palavras escritas por uma eterna solidão, teimosamente enraizada, teimosamente idolatrada.

-Não adianta querem-me. Eu não me quero. Nunca me quis. Porque é que vocês teimam em me querer? Não vos posso dar nada, pois não tenho nada. Não guardo nada. Uso e abuso e não guardo o melhor para o fim.

Há muito tempo tinha decidido partir. Há pouco tempo acreditou que era capaz de partir. Sentia-se, quem estava ao pé dele, que transpirava confiança. E tantos estiveram ao pé dele. Estariam esses tantos enganados?

Eu não posso dizer que sou seu amigo, pois ele diz que não os tem. Mas posso dizer que o conheço bem. Foram muitos anos de monólogos, pela noite fora. Muitos sentimentos que saiam da sua carne crua. Mas quente, muito quente.

-E mais, não sou aquilo que procuram. Fingem que sim, porque é mais fácil. – Voltando-se directamente para o sol que tardava em nascer. – Sim, optam pelo mais fácil, e porquê? Apenas porque não gostam de procurar. – Sem sequer fazer um pausa, continua. – Já eu, amo loucamente a procura. Como nos podemos entender? Como posso eu, me fazer entender?

Mas mesmo conhecendo-o muito bem, não posso dizer que sou seu confidente. Pois quando estou com ele, é raro dialogar-mos sobre si. Prefere sempre falar de mim, mas só quando está comigo, é claro. Pois basta-me sair da sua frente, e esquece simplesmente que existo. Para voltarmos a falar, a estar, tem que sempre partir de mim. Se me chateio?

-Ah! Finalmente apareceste. Já posso então ir embora? Devo desligar as luzes? Tomas conta agora da nossa claridade? – Por cada pergunta que fazia ao Astro Rei, dava sempre um ou dois segundos de intervalo, parecendo que estava à espera de uma resposta. – Ah! Aí estás! Forte e confiante como sempre. Gosto de ti assim...

E ficou por ali, veio deitar-se junto a mim. E assim que encostou a sua cabeça na almofada, suspirou umas duas ou três vezes, fechando os olhos. Eu mantive-me imóvel, não fosse ele perceber que estava acordado. Não, não tenho medo dele. Não, não me chateio que ele se esqueça de mim. Eu já percebi é que gosto dele assim...

22 outubro, 2009

- Já não me lembro o quanto gosto de ti.

- Como não te lembras? Ainda ontem me dizias que me amavas.

- Juro que não me lembro. Ontem foi diferente. Sabes que às vezes dizemos coisas, conforme a situação só para empolgarmos ainda mais o que estamos a fazer.

- Disseste que me amavas... Foi para empolgar a situação?

- Claro que sim! Contigo, isso não acontece?

- Claro que não! Estou farto de te dizer que eu, sou genuino em tudo o que faço. Tudo o que faço e que digo.

- Ah! Não sejas assim tão certo de ti próprio. Um dia, vais-te arrepender de muitas coisas de teres dito e feito "genuinamente".

Eugénio voltou-lhe as costas. Ainda tinha um pedaço de pão na sua mão direita, e nos seus dedos tinha a manteiga que sobrava da côdea.

- Vais-te embora?

- Claro que não!

Depois de fechar a porta com todo o cuidado, não que não quisesse que Leonor ouvisse, apenas não queria sair como todos aqueles que saiem depois de uma discussão de amor, ainda tentou ouvir se tinha havido algum movimento. Mas não. Por isso, continuou o seu destino. Desceu as escadas em vez de o elevador, afinal eram só dois andares, e quando chegou à porta do prédio, pensou naquelas palavras: - Um dia, vais-te arrepender de muitas coisas de teres dito e feito "genuinamente" . Mas afinal o que é que ela queria dizer com isso? De teres dito e feito "genuinamente"? Queria ela, que ele começasse a ser falso? Não entendia, e quando deu por ele novamente, estava parado à frente de uma passadeira. Queria voltar para trás, mas o corpo não respondia. Tentou de novo, mas desta vez queria andar para frente. Também nada. Estava paralisado. Estava "genuinamente" paralizado. Assustado, reparou que todos os carros que passavam àquela hora, paravam para lhe dar passagem. Na verdade, não era só ele que estava paralizado, como ainda conseguia paralizar aqueles que lhe rodeavam. Por pouco tempo é certo, porque quando os condutores viam que ele não se mexia, arrancavam com a acelerador a fundo, chamando-o de maluco, e outros nomes que não vale a pena referir. Como ele não se mexia, nem sequer os olhos, não dava qualquer sinal de se importar. E na verdade não se importava mesmo. Além do mais gostou da sensação de se sentir gente. Por pouco tempo é certo, mas sentiu-se gente. E o pior é que há muito tempo que não tinha aquela sensação.

Passado não sabe quanto tempo, e depois de aquela cena se repetir várias vezes, conseguiu dar um passo para trás, e depois outro, e mais outro, e ainda mais outro, até embater na mesma porta de onde tinha saído. Instintivamente deu um passo em frente e nunca mais parou.

10 outubro, 2009

"Olá boa noite, como estão?" – Comecei o monólogo.

"É verdade. Tanto silêncio e hoje decidi falar. E porque hoje? " - Engulo em seco.

"Porque hoje, talvez seja o dia, ou melhor a noite, em que todos saiem à rua para se divertirem. " – Sorrio.

" Ou talvez, seja a noite em que adormecem cedo, para que o dia de amanhã chegue rápido... Não interessa.

Não me interessa se hoje é a noite perfeita ou não para quebrar o silêncio." – Acendo um cigarro. Olho-me ao espelho. E reparo que que fiquei um segundo mais velho. Mais atento. Mais indiferente, talvez mais experiente.

Volto-me de costas para esta imagem que ja desisti de tentar conhecer e continuo. – " Já tentei ser terra. Já tentei ser corpo. Já tentei ser jogo. E não o que irei vir a ser.

Como repararam, até já tentei o silêncio. " – Olho para o lado, sem focar nada em especial.

"E não sei. Não sei o que irei vir a ser. Estou a repetir-me?" – Espero pela resposta. Mas tudo isto é um monólogo. Todos sabem, que depois do silêncio, ninguém estará lá para me ouvir. Lentamente, como quem quer ter prazer, passo a minha mão pelo rosto. Depois deixo os dedos encontrarem os lábios, até que se cansem.

...

" Porquê eu? Porque é que eu continuo nesta procura de algo que já não existe? – " Procuro esconder as mãos. Isto de falar em público, tem muito que se lhe diga. Inspiro para ganhar coragem.

" Uma coisa é certa. Não quero perder a noção do tempo. Aquele segundo que tive no espelho, ficará para sempre guardado na minha memória. São muitos segundos, eu sei. Mas nesta floresta negra, em que os lobos andam sozinhos, eles são obrigados a decorar todos os caminhos. Todas as tocas. Todas as noites que passam sem comer. E como não podia deixar de ser, todos os repastos que um dia já tiveram.

Mas de vez em quando, a lua fica cheia. E de nada serve os dias que já passaram. Eles, uivam sem perdão. Uivam para que um dia a lua fique tão farta de os ouvir, que deixe de aparecer." – Ganho fôlego.

Inspirando novamente... – " Oh, gente que se deixa apaixonar! Tragam essa forma de viver para o meio desta floresta. Façam um circulo gigante, se possível numa forma de coração, para que a lua possa conseguir sorrir. Para que assim ela nunca consiga desistir." – Sorrio com o verso criado.

Aproveito este sorriso, e tento ver-me outra vez no espelho. Mas desta vez... Estou longe. Ainda tento congelá-lo, mas assim que chego, o sorriso está desfeito. Mais um segundo. Mais silêncio. Mais... Nada!

"Play...

08 setembro, 2009

Estou proximo de ti. Estou tão proximo que já nem sinto o meu corpo. E não quero isso. Quero ter, o que tive ontem. Ter o olhar, o sorriso, o ouvir do meu nome, que me espantou após tanto tempo de chuvas e trovoadas.

Assim como as tempestades, sei que não vai durar. Sei que foi só para ver se o coração ainda conseguia bater sozinho, de uma forma incontrolável, sem querer fazer ou dizer mais nada. E sinceramente gostei. Gostei mesmo. Não que me fizesse sentir mais vivo, ou mais alegre. Mas de repente fui de novo criança. Fui de novo aquele, que não vê ou sente mais nada, a não ser a imagem que está a frente e o toque no que toco.

Ahh...!

(Desta vez este suspiro é diferente. É bom... é muito bom.)

As mãos que tremem poderiam anunciar a paixão por alguém, mas não. Senti-me apenas de novo apaixonado pela vida, pelo acaso, pela morte, pela certeza.

E como sempre, estas palavras, porque são só palavras, nada descrevem como o meu coração começou a bater mais rápido. Bastante mais rápido para ser sincero. Aquele olhar incerto, que contrasta com os olhares dos passáros nocturnos, avídos de luz. Olhares famintos à procura das suas presas.

Não, aquele olhar não quer nada. Não quer nada, porque tem à sua frente tudo aquilo que precisa, tudo que é necessário para naquele momento estar vivo, estar consciente. E no meio do turbilhão de emoções, gritos, copos e gemidos, é genuino.

Mas como tudo o que é raro não nos pode pertencer, virei-lhe as costas. Mas apenas por poucos segundos. Tive que voltar a vê-lo, para me certificar que não tinha perdido o juizo.

E não... Ainda estava lá a olhar para mim.

Repetimos a cena. Voltei-me de novo, mas agora dizendo adeus. Pobre ingenuidade, pobre de mim. Sem me aperceber, estavámos de novo frente a frente.

Tento uma última vez, até porque me chamavas. Mas desta vez, saio devagar sem lhe virar as costas, deixando que a multidão nos cubra de sombras e de banalidades.

Pelas ruas das luzes amarelas, vagueei só, até me encontrar verdadeiramente só.

Recordei a carta que um dia encontrei no chão sujo de um parque perto de casa. Ainda não te tinha falado nela, eu sei, mas o duque de ouros terá mesmo que pertencer àquele olhar.

Felizmente hoje, especialmente hoje, irá haver um Amanhã.

22 agosto, 2009

Perdido ou preso no topo da torre do castelo, oiço um murmurar:

- Não saias daqui!

Livre e bem decidido na minha rota, nos jardins do Palácio, gritam:

-Não saias daqui!

Sou capaz de tudo. Sou capaz de ser tudo. Mas por mais que continue quieto, sei que o mundo continua a girar. E eu giro com ele... Ouviram? Sim, giro com ele.

É impossivel estar imóvel. É impossivel estar sempre no mesmo sitio.

Quem não percebe, é porque habita num mundo onde não há estrelas cadentes, onde o infinito é finito. Onde a verdade é egoismo e o sentimento é sinónimo de dor.


Anjos ou demónios, por favor, oiçam o meu grito.

E ensinem-me tudo aquilo que tenho que fazer.

Para que, de uma vez por todas, me possam entender.

E assim continuar vivo, em tudo aquilo que eu acredito.


Não é que tenha medo de morrer,

Ou, como alguns pensam, de morrer sozinho.

Não quero é ter que viver,

Sem nunca saborear o meu próprio caminho.


A verdade... A minha verdade,

Não devia doer tanto.

Devia ser flores e sorrisos no meio do pranto,

Para que pudesse enfeitar uma janela desta cidade.


Não sairei daqui nunca,

Mas lembro, que vivo uma fantasia que é realidade.

E seja num palácio ou numa espelunca,

Nunca irei perder a minha liberdade.



16 julho, 2009

Trim! Trim! – Ninguem responde. Insisto.

Trimm! Trimmmm! -Já impaciente.

Olho para as janelas das casas iluminadas. Afasto uma mosca que teimosamente tenta pousar no meu pé direito. Vindo lá de dentro do prédio, oiço a voz de um homem a gritar, mas não entendo o que diz. Continuo a olhar, à espera de alguma diversão. Mas não há. Não sei se é porque já é tarde, ou simplesmente porque, hoje não é o dia para diversões.

O homem continua a gritar, e eu continuo a não querer ouvir.

A mosca continua a querer pousar, e eu continuo a não a fazer desistir.

Sento-me, estava decidido a esperar. Sinto a rua, deserta, escura e abafada, a ter um esgar de dor ao ver-me ali sentado, com os pés de um lado para outro, a tirar-lhe o sossego. Mas não me importo. As ruas servem para serem usadas e desta vez sei que não sou um fardo.

O homem parou de gritar e eu agora quero ouvir.

A mosca prepara-se para parar e eu rogo para ela insistir.

Neste silêncio, acende-se a luz das escadas do prédio mesmo em frente. Espero. Penso como será, o casal, ou a pessoa, ou a família que irá sair, que irá interromper a monotonia. Não formo imagens, apenas consigo ver vultos, prefiro pensar quantos serão. 3, é a minha aposta. Ou talvez apenas 1. Devem morar nos últimos andares pois estão a demorar. Olho para cima para ver se vejo movimento. Alguém que venha à janela despedir-se dos outros 3... Ou de apenas 1. Não, tenho a certeza que são 3. Espero.

O homem parou mesmo de gritar e eu já não me lembro porque queria ouvir.

A mosca há muito que decidiu voar e eu acredito que voltará a vir.

O tilintar das chaves faz-se ouvir. Decido levantar-me. Não sei se para ver melhor quem descia, ou para me verem melhor quando descessem. Também não importa, faz sentido ambos os casos. Ao levantar-me reparo que provoco movimento. Algum animal que para ali andava, assustou-se, e escapuliu-se para a escuridão. Tento ver primeiro para onde foi, e depois, tentando recordar o som, tento ver de onde veio. Abano a cabeça. Não consigo descobrir. A luz das escadas apaga-se.

Agora é que o homem podia gritar, porque agora queria mesmo ouvir.

A mosca deve ter encontrado outro para chatear, e eu penso que um dia outra voltará vir.

Passado alguns segundos, volta de novo a luz. Deve ser um velhote, ou uma velhota a vir por o lixo na rua. Imaginei-a, sim agora é só uma velhota, às escuras nas escadas. Deve ter tido a paciência de tentar encontrar o botão da luz. Provavelmente, faz este bailado todos os dias. Provavelmente é unico momento do dia que sai de casa. E quer fazer com que este momento nunca acabe, pois sabe que amanhã, poderá não o fazer. Sento-me de novo. Sinto-me impaciente.

Impaciente porque o homem já não grita. Impaciente porque eu até queria ouvir.

Impaciente porque a mosca já não acredita. Impaciente porque eu até ia deixá-la vir.

A porta por trás de mim abre-se, acompanhado com o som do trinco. Encostado, sobressalto, mas nada que me faça assustar. Levanto-me, viro as costas á luz do prédio em frente. Entro no vão das escadas, sinto que está mais fresco. Suavemente fecho a porta do prédio onde estou, mas estou com o olho no prédio da frente. Ainda nada. Espero?

Espero que o homem volte a gritar. Espero que na próxima vez queira logo ouvir.

Espero que a mosca nunca vá desistir. Espero que eu na próxima vez a queira logo sentir.

08 julho, 2009

Então... E se Hoje não escrever?

E se deixasse o silêncio penetrar neste metro quadrado?

Será que vale a pena?

...

E o que é que o silêncio me dá?

As memórias das horas gastas?

O sorriso de quem já não sorri?

Ou simplesmente, dá-me a certeza que não vale a pena esperar por quem não quer ser esperado?

...

Então... Porque é que escrevo Hoje? Logo Hoje?

Será que é porque é o dia onde realmente estou?

Será que para mim o Amanhã, é cedo demais?

Ou será que o Ontem foi tão bom, que transforma o Hoje tão especial?

...

Então... Porque é que Hoje me sinto tão... Banal?

Porque tardo a perceber que sou egoísta?

Porque desenho circulos à procura de um angulo recto?

Ou porque sentir falta é assim tão normal?

...

O que fazer?

Devo praguejar?

Dormir?

Ou murmurar todas estas palavras ao teu ouvido?

"Se os momentos não são a vida... Então o que serão?"

13 junho, 2009

Bastinhas andava perdido à já algum tempo. Eram tantos os pensamentos quem nem ouviu o toque dos sinos da igreja que assinalavam as dezoito horas.

Caminhava altivo e bonacheirão, próprio de alguém que tenta manter sempre uma imagem, quando de repente, ouve um choro timido vindo daquele jardim castanho esverdeado.

Parou, como alguém o tivesse obrigado a parar, apenas para sentir a ligeira brisa que soprava contra ele, que tão bem lhe sabia naquela tarde quente.

Um suspiro vindo do chão, aguça-lhe a curiosidade. Lentamente baixa-se e senta-se na relva. Repara numa pequena folha, que está em risco de voar por causa da mesma brisa que o refrescou momentos antes, que lhe diz:

- Estou triste...

- Também eu. – Pensou.

Sem que alguém tivesse perguntado nada, aquela pequena folha continua:

-... Não quero perder-me, snif, olha para as minhas irmãs lá em cima, snif, agarradas à minha mãe.

Bastinhas pensando que estava a ficar doido, levanta ligeiramente o olhar mas não vê nada.

- Via as minhas outras irmãs irem-se embora, sem direcção, sem rumo. Sabia que mais tarde ou mais cedo, este seria também o meu destino, mas nunca quis acreditar. Pensava que iria ser sempre forte, que apenas dependia de mim própria. Aiiii... Como estava errada. E agora sozinha neste seco relvado, o vento já me empurra. Por favor ajuda-me, snif, ajuda-me...

-Mas que posso eu fazer? – Pergunta envergonhado – Faz parte do teu ser, crescer sempre amarrada a um porto, até à tua viagem, que começa este dia.

-Tenho medo... snif. – Ouve o choramingo de novo.

Sem se tentar controlar, Bastinhas começa também a choramingar.

Antes das primeiras lágrimas salgadas sairem do azul dos seus olhos, a esperança rompe-lhe o coração e afirma com emoção raramente vista nos últimos tempos.

- Tenho uma ideia! Este teu deslargar pode não ser em vão. Irei-te entregar a alguém que amo muito. Ela sabe proteger, sabe sonhar, sabe amar. Apenas não está ainda preparada, tal como tu, para um caminho. Juntas serão uma, e assim as duas nunca estarão sozinhas...

Sem o deixar terminar, a pequena folha pergunta desconfiada:

- O Quê? Vais me dar a alguém?

- Não é dar... É antes encaminhar. Assim não estarás sozinha – responde prontamente – as duas tornar-se-ão as melhores amigas, as confidentes, aquelas que eu darei mais amor.

Surpreendida diz – Sério? Vais me amar? Porquê?

Bastinhas responde sem pensar.

- Porque é o melhor que sei fazer... Amar! O amor, a única fórmula para ter força no caminho da felicidade.

Agora, imaginem uma boca numa folha. Façam-na sorrir. Daqueles sorrisos que caracteriza o principio de um novo caminho. Nessa mesma boca, pelo meio desse sorriso, saiem estas palavras:

- Então faremos um acordo. Enquanto essa mulher que amas olhar para mim, farei que ela nunca se esqueça de ti. Que se lembrará sempre dos teus lábios, do teu sorriso. Assim estaremos sempre unidos, nesse amor que tanto acreditas, que de certeza nós também iremos acreditar. Sim?

Timidamente, responde.

- Sim... Obrigado pela tua coragem, pela tua fé neste amor.

Respira fundo para ganhar ar, e continua:

-Irei por-te numa moldura. Não para te aprisionar, mas para que este amor possa ser visto eternamente. Importas-te?

-Claro que não. Assim durarei o tempo que dura a eternidade, como foi sempre o meu sonho.- Responde com rapidez.

- Ah! E como ela se chama? – Questionou com avidez.

Com ternura na sua voz grave, e desafiando os seus olhos azuis para o céu, diz:

- Eu chamo-lhe Douro. – Cora ligeiramente – Mas este não é o seu nome verdadeiro, mas é o nome que melhor a caracteriza. O elegante e sinuoso Rio Douro. E como irás ver na primeira vez que se virem, tem um sorriso maravilhoso...

Com um timbre perfeitamente calmo, comenta:

- Bem... estou mesmo ansiosa... Mas diz-me, como te chamas?

Bastinhas não esperava por esta pergunta. Assim que a ouviu estremeceu dos pés à cabeça. Calmamente colocou os braços para trás, esticou as suas pernas, e respondendo para as nuvens, diz muito baixinho, porque tinha a sensação que o mundo inteiro o estava a ouvir.

- Mar!

- Então...? Quer dizer.. que nós os três... Iremos estar mesmo juntos, não é? – Pergunta desta vez num tom agitado.

Naquela mesma posição, com o olhar fixo na mesma nunvem, responde:

- Sim! Mas por agora... tudo isto é apenas um sonho.


30 maio, 2009

-Je suis seul. – Suspiro.

-Dêem-me um minuto de silêncio, ou alguns segundos de atenção,por favor. E tentem não pensar que me conhecem. Apenas oiçam este canto, vazios... ocos... e se possível ingénuos. – Fecho os olhos.

-É certo que errei. É certo, que estou apenas a tentar crescer e voar pelo meio de Dunas, perto, bem perto da Beira Mar. – Abro os olhos.

-Quero voltar a ser criança!

-Quero poder acreditar que este voo pode ser real!

-Que não irei estar só! – Acabei de dizer isto?

-Não quero companhia de serão ou outras companhias que podem levar à paixão. Apenas não quero crer que estou só no meu pensamento, na minha vontade. Quero alguém que me acompanhe neste voo.

-Mais, je suis seul. – Outra vez, a merda do suspiro. O meu corpo aquece e transforma-se neste suor que me faz feder.

-Apenas irei ficar neste portão de ferro, nesta velha igreja que já ninguém dá importancia. E ficarei à espera que me venham buscar. – Encolho os ombros.

-Não irei chamar ninguém. Não deixarei que me toquem, até me dizerem que estão comigo – Fecho os olhos de novo.

-Eu sei que já passou o minuto.

-Ainda continuam aí? – Não quero abrir os olhos.

- ...

Sacudo lentamente a caixa das ideias. Oiço as ideias a gritarem de dor. Saio para a estrada nu, acreditando seriamente que ninguém vai notar. Vidas simples, vidas com destino, cheias de ideias mil. Tenho inveja. Sinto de novo este fedor que emana do meu corpo. Não! Não estou morto... Pelo menos ainda.

-Visto que não dizem nada. E eu recuso-me a abrir os olhos, peço-vos que fiquem mais um tempo. Desta vez não quero quantificá-lo, fiquem apenas o tempo que eu merecer. – Que mereço?

-Está perto! Está muito perto de eu deixar de acreditar. E sem arte, muito menos vou conseguir. – Disfarço a vergonha.

-Ei! Não vale troçar, por eu não ter arte. Deixem-me tentar, é só isso que eu quero. Acreditar que estou a tentar. – Procuro o abraço de alguém que ainda me oiça, de braços estendidos, como um sonâmbulo.

-Je suis Pépinot, et j´attend pour mes parents. – Est seulement un rêve et… comme vous le comprenez!

Merci...


20 maio, 2009

Encerrado. Encarcerado. Enclausurado.

Encerrado está o caso da casa Amarela. Todos opinaram, e foram poucos aqueles que conseguiram manter-se imparciais. Foram dias longos de investigação. Noites de nicotina e cafeína, em doses duplas. E o resultado estava á vista de todos, mas ninguém queria acreditar. As crianças carregadas de inocência, brincavam no jardim a poucos metros daquela pequena trágedia. Soltavam sons de pura alegria. E gracejavam das caras sérias e do vai e vem dos adultos.  Afinal quem era? Ou melhor, quem foi o culpado? Ninguém queria saber. Sempre preferiram escrever novas histórias, imaginar melhores e mais entusiasmantes finais. Não queriam acreditar que o caso da casa Amarela, não era um caso daqueles que passam nas noticias. Já se imaginavam a dar entrevistas para o grande ecran das suas casas sem cor. Havia até uma senhora, que normalmente não se dava a estas coisas, que se embonecava todos os dias, só para o caso de um dia a televisão aparecer. E as crianças riam... quando viam aquelas  cores berrantes. Mas não, não foi nada de especial. E foi o Sr. Manuel, que desvendou o caso. Apenas tinha sido Suicidio.

Encarcerado pelas paredes amarelas de sua casa,que tanto trabalho tinham dado a pintar, Valente cedeu. Não conseguiu resisitir ao seu destino, e apressou-se a chegar junto a ele.Tinha pintado as paredes de Amarelo, porque tinha lido algures que poderia ficar mais Feliz. Que os dias, junto à cor do Astro Rei, ficariam mais leves, mais quentes. Foram várias as vezes que os seus amigos o tentaram tirar de casa, mas em vão. Valente estava determinado em ser um melhor Homem, um melhor amigo, um guru para os amigos que viviam na tristeza. Houve dias que dançou. Outros que ria à gargalhada. Mas de noite, quando o Amarelo se desvanecia, vinha  o sentimento do esforço de estar bem. Fechava e abria os olhos para focar melhor aquela cor terapeutica, até que, acabava sempre por adormecer.    

Enclausurado no seu desejo de ser Feliz, prometia constatemente, em alto e bom som, que no dia que saisse, tudo seria diferente. E quanto tempo duraria esta clausura? Nem Valente sabia. No entanto tinha a certeza que esta, era a solução mais certa. Passavam os dias... E nada. Nem uma melhoria. Parecia sempre que tudo o que fazia, era em esforço. Até que um dia... Valente cedeu. Não conseguiu resisitir ao seu destino, e apressou-se a chegar junto a ele. Mas não, não foi nada de especial. E foi o Sr. Manuel, que desvendou o caso. As crianças já o sabiam há muito tempo. Apenas esperaram... mas a brincar.     

12 maio, 2009

Desligo qualquer tipo de sinal sonoro, para não poluir ainda mais o ambiente. 

Trago as palavras, que nunca te direi, nesta folha de papel, que amarroto, que quase rasgo, que quero esqueçer que um dia as escrevi. 

Não tenho coragem de as mandar embora, e tenho medo, que nunca as virás a ler. 

De nada serve escrever se tu nunca me vais ler.

Sinto um corropio de emoções dentro do meu peito, e não sei (quem diria?) exprimi-las. 

Não sei nada. Não sei nada.

Quero desaparecer do teu mundo imaginário. Sei que quero voltar à tua realidade.

Se tenho saudades da simplicidade?

Não. Definitivamente não.

Fecho os olhos. Tento ver-te.

Mas não estás, nem nunca estarás, se eu continuar aqui. Então porque faço questão, de ainda estar aqui à tua espera? 

Estou calmamente, pacientemente, religiosamente, no silêncio.  

Sinto que estou, simplesmente estou, apenas porque não há outro sitio para estar.

Aaah! Quem me dera poder dar-te aquelas palavras amarrotadas, quase rasgadas, que em breve esquecerei que um dia as escrevi.

Ligo os sinais sonoros, afinal... quem polui o ambiente, não são eles. 

10 maio, 2009

06 maio, 2009

-Bandido!  – Sussurra-me ao ouvido.

-Bandido? Apenas sou verdadeiro. Não sei o que é o futuro.  – Respondo com a minha voz grave e pesada, para parecer ainda mais real.

-Bandido! Faz-me sentir que nunca devia ter-te conhecido!  

Recuo. Acendo um cigarro, e suspiro fundo.  

- Já podes tirar a venda dos olhos.  - Afirmo num tom monocórdico.

-Já? - Surpreendida, continua…  – Como já?

Não respondo, prefiro reparar na luz do cigarro que nos iluminava.

- Leonardo!  – Sussurra de novo, com sensualidade.

Levanto-me, sacudo a areia que me inunda o colo, e avanço o suficiente para não ouvir o próximo sussurro.

Ao sentir-me afastar-me Mariana tira a venda do rosto energeticamente, aproximasse e sussurra-me novamente ao ouvido:  

- Leonardo? Porque é que tens medo?

Olho-a penetrantemente. Aquele olhar que me arruína. Olho para a minha mão que lhe afaga primeiro os cabelos e depois o rosto. 

- Não tenho. Tu tens?

Mariana sorri. Daqueles sorrisos que ficam gravados na memória. Abraça-me com a sua maior força. Sinto as suas unhas entranhar-se na minha pele morena, que me desviam a atenção da sua resposta. 

- Não devemos de querer mais do que aquilo que já temos...

Não a deixo terminar. Coloco o meu dedo na sua boca a implorar-lhe silêncio. Beijo esse dedo que há momentos atrás detalhava o seu corpo e sinto a sua respiração. Reparo que eu não respiro. Realizo, que quando partimos para um beijo sustemos sempre a respiração.

Num só movimento, viro-lhe as costas. As suas unhas vincadas na minha pele rasgam-me ligeiramente. O suficiente para ter um esgar de dor.

Sem se aperceber da dor causada, Mariana fala pela primeira sem sussurro.

- Então e… Granada. Já não vamos?

Tento decidir a minha resposta mas não me dá tempo. Oiço a sua voz desfalecer.

- Disseste que esperavas todo o tempo do mundo por mim…

Volto-me para ela, desta vez bem devagar. Dou uma última passa no cigarro e entrego-o a ela.

Enquanto ela leva o cigarro á boca, respondo:

. Vá, vamos, está a ficar tarde…

21 abril, 2009

-Volto a dirigir-me a ti, depois deste tempo todo.

Venho outra vez ao teu encontro, porque o meu corpo já se ressente, do teu peso, do teu gosto, da tua incompreensão.

Volto a ti, não com vontade de sentir amargura, ou com vontade de te recriminar, pois sei que não tens culpa. Já há muito tempo que me vens dizendo, que és aquilo que queremos ser, mas sei também que tenho que parar por aqui esta nossa parceria.

Recordas-te das derrotas de outrora? Afinal, transformaram-se em vitórias. Fiz questão de as modificar, pois sabes que não gosto de perder. Passo a passo, noite após noite, fui conquistando novamente o território que julgava ter perdido, até não o querer de novo e o abandonar definitivamente.

 Lembras-te das folhas que caíam das árvores? É, nasceram outras. E não adianta querer embelezar esta queda, é poesia sem ouvintes, é cor para daltónicos.

Mas, hoje estou aqui à tua frente, não para me despedir, que acho que nunca viverei sem ti. É antes um tributo, uma confissão.

Não pretendo ser confuso, difuso. Quero ser claro no raciocínio, que sempre me caracterizou.

Bom… o que me traz cá é para te dizer que, voltei às derrotas. Sim, confesso que perdi. E não, não me sinto envergonhado, conheces-me bem demais… sabes que não a tenho.

E desta vez, vou mesmo deixar ser uma derrota, vou desistir. Não quero voltar a conquistar um pomar que nunca foi meu.

Todas as outras derrotas que transformei metodicamente em vitórias, não me seduziram. Por isso transforma-as em derrotas, não concordas?

Assim, vou deixar estar tal e qual como está… e ver o que acontece. Talvez, e pela eterna lógica, se transforme em vitória.

Reafirmo, não quero ser confuso, difuso. Pelo contrário, quero ser simples, não quero mais pensar em círculos, e ser o centro deles. Quero estar fora deles, fora do objectivo central.

E não vou pedir mais a tua ajuda. Como te disse, tenho o corpo cansado de ti. E para veres a minha determinação, falo para ti, mas não te toco.

Vou-me embora, e antes que digas alguma coisa, deixo-te um recado do Eugénio.

Ele pediu-me, enquanto esperava eternamente que ele passasse na sua passadeira real (Sabes como ele é…), que te alertasse que por mais que as pessoas se entreguem a tua mercê, na verdade, só existes por algumas horas. Não sei o que ele quer dizer com isto, mas… está dito.

Fecho a porta com um ligeiro sorriso, e agora que ele não me ouve, falo para vocês:

-Gostava de vos contar novas histórias que tenho ouvido. De portas mágicas, do Eu, do Tu, mas vou ter que me desabituar disso. Prefiro que não me oiçam, por três razões:

Primeiro, para que não me julguem, mal ou bem, não importa, apenas não me julguem.

Segundo, porque são histórias frias, sem sabor, sem encanto, sem Amor.

Por último, porque sinto que vocês nunca querem ouvir. Por isso, hoje, vou-vos fazer a vontade.

08 abril, 2009

- Que me queres dizer? O que tens para me dizer?

Acendo o último cigarro, e peço ao invisível para que esta conversa seja curta, seja curta o suficiente, para que não me deixe a ressacar cigarros.

Viro-me com toda a paciência que ainda me resta, com o meu olhar de ternura que melhor consigo ter, e repito:

- Diz lá! O que se passa?

-É que… preciso de te dizer uma coisa – diz envergonhada.

Oiço a voz abafada devido aos meus pensamentos, e também pela música que invadia aquelas paredes, e sem perceber começo a voar por caminhos antigos que já nem sabia que existiam.

Reparo que a parede caiada de branco á minha frente estava virada para Este, que não tinha qualquer marcas de musgo, nem de humidade. Estava branca, imaculada.

O apito do homem dos pássaros começa a sua serenata que tanto me deixa confuso, difuso, e com vontade de dormir. Soa-me a flauta encantada, e eu, a serpente que envenena tudo e todos, saio encantado para divertir o público, cheio de emoção por ver um tonto, que ainda se apaixona por ti, pela tua arte, pelo sorriso dos homens, pelos sonhos, por tudo e por nada.

-Estás a ouvir? – Pergunta-me num tom um pouco mais alto.

- Claro que sim… Claro que sim, apenas não entendo.

Para dizer a verdade, entendia muito bem o que me queriam dizer. As palavras usadas é que não pertenciam ao meu vocabulário. Não porque fosse numa língua estrangeira, apenas porque o ciúme, a desconfiança, já não habitam aqui há muito tempo.

Grito por ajuda, grito para que me tragam um cigarro. Um grito mudo é certo, mas mesmo que fosse daqueles gritos que todos ficam a olhar, mas que ninguém faz nada, também desta vez não tinha esperança que algo acontecesse.

Mais abaixo, num outro teclado que não este, naquele que não debita palavras, apenas sons, não existem estes dilemas. Claro que existem outros, mas não estes.

No entanto, seja qual for o teclado que os nossos dedos tocam, terá sempre o mesmo fim. O fim que nada diz, que cai mudo, que fica imaculado como o muro branco caiado na Primavera passada.

Parece que os olhares, os risos, as brincadeiras, realizados por mim, nas estações que entretanto passaram, não existiram.

Não… Afirmo, e continuarei afirmar, existiram sim! 

31 março, 2009

Sabem...? Rompi com o passado.

E foi sem dó, mas foi por piedade.

Se um dia já fui rosto despedaçado,

Hoje sou alma, mas apenas não tenho idade.

 

E digo vos mais… Sinto que tenho a força de um Leão,

Quando se prepara para uma luta.

Sou Homem, Fogo, Dragão,

Caio sempre de pé, como qualquer fruta.

 

Quero que saibam isto,

Para que a desilusão seja sem dor,  

E saibam ainda, que as linhas com que me visto

São Tango, são Sul, são Calor.

 

Assim, assumo com honestidade,

Sim, perdi e ganhei o Norte,

Chamo O Amor… Liberdade,

E Prisioneiro só se for da sorte.

 

Ah! E não pensem que me esqueci,

Das linhas, e círculos já (des) feitos,

Nunca me esqueço do que já vivi,

Mas desculpem-me, já não vivo com esses defeitos.

 

A Nortada, os Reflexos, os Reis e as Princesas,

São hoje histórias de encantar,

Serão apenas restos de sangue das minhas presas,

Que com sorte nunca irei olvidar.

 

Grito á Lua que teima a permanecer cheia,  

Com uma voz rouca, adulta e imatura,

Não quero mais presas na minha teia,

Quero risos, quero asas, quero aventura.

 

Apenas a Ti faço reverência,

Pois só Tu sabes, quem na verdade sou,

Sabes que acredito nesta ciência,

Mas também Sabes que sei, quem Me Criou.


E com um pequeno toque no nariz,

Sabes para onde quero ir,

Solto, livre... procuro ser Feliz,

Caminho este, que nunca me deixarás desistir.

12 março, 2009

*Fecharam-me os olhos. Obrigaram-me a fechar os olhos.


-Fecha os olhos... Por favor, fecha os olhos...

Pegaram-me na mão. Não sei por onde fui, apenas me lembro do cheiro a madeira antiga, do aroma suave que vinha da janela cuja brisa me penteou os cabelos... e fui...

Peguei-lhe na mão, queria levá-la para fora daquele quarto antigo. Queria que aquela brisa que lhe penteava os cabelos negros nos levasse para bem longe.

Agarraram-me na mão, agarraram-me na anca, encostaram-me num colo e levaram-me.

Apertei a minha mão contra a dela, agarrei-lhe na anca, encostei o corpo dela ao meu e fomos. Para onde? Não interessava.

Fizeram-me sentir medo, sentir frio, sentir saudades, sentir esperança, sentir-me gente, sentir-me mulher, sentir-me macia, sentir-me forte, sentir-me tentadora, sentir-me intocável, sentir-me única.

Quis dizer-lhe para que não tivesse medo, que sentisse apenas o meu calor e uma restea de esperança. 
Afinal és e serás sempre  aquela mulher  que uma vez vi. Forte no entanto macia, tentadora, quase intocável. Atreviria-me até dizer... Única!

Fizeram-me sentir-me, e continuavam a levar-me, e eu ia...

-Sente... Vem...

Passei por sitios provavelmente inimagináveis, sim fui lá; sem perceber afinal que a única coisa que viajava era o calor do rosto que timidamente me tocava e eu timidamente deixava...

Sem perceber, estava onde queria ir, ao ponto mais alto da montanha, ao fundo do mar. Dançar pela noite dentro, pelo meio de estrelas e planetas e apenas com uma espectadora a assistir.

Suspiro sem mexer o peito. O meu calor, o calor dela. O receio de ambos... 

Passou o tempo, passaram as horas, não passou a timidez, a viagem acabou...

O tempo voou a velocidade da luz, o receio porem resistia:

-Não me interpretes mal, apenas quero que esta viagem não acabe. - Testando a telepatia.

Obrigaram-me a abrir os olhos, a sair do colo, a largar a mão, os pés estavam doridos...

-Neste momento dou-te o meu coração, o meu colo, o calor da minha mão. - Abusando de um dom que não tenho.

Senti o chão por baixo de nós, deixando num ápice as estrelas para trás.

Não abri os olhos, senti o suor libertar-se no afastamento do rosto, senti perder-se o calor das mãos para iluminar-me o sorriso...

Continuo de olhos fechados. Apenas sei que ela sorri...

Ainda não tinha sorrido naquelas horas, não era preciso.

Apenas sei que ela sorri...

Diante de mim, o vulto, o meio, o caminho, o percurso, o fim, a mão, TU...

Abro finalmente os olhos... 

Sorri! Não me obrigavam a sorrir...

Obrigado pela viagem!

No pares! Quiero quedarme en tus brazos!

*Texto oferecido por alguém que tem o seu "timing". Maturos? Nunca seremos...

02 março, 2009

Edição Especial 

-Ora co´licença!

1 Minuto de silêncio.

Subia a Rua da Dona Madrugada, quando de repente (vá, confesso que já pensava nisto há algum tempo), surgiu-me a vontade de seguir o autocarro que se deslocava no sentido contrário.

O sinal ao fundo estava vermelho, e não tive mais nada, encostei à direita, tomei atenção se vinha alguém atrás, e passei o duplo contínuo sem hesitação.

Demorou, mais ou menos, uns sessenta segundos a chegar à traseira da lata amarela com ar condicionado, que devia estar ligado no quente, visto na rua estar um gelo de morrer. É sinal deste Inverno que em breve ficará florido, cheio de cores e novamente cheio de ilusões.

Enquanto o seguia pelas ruas estreitas da cidade, recordei o caminho que tinha feito até chegar aquele ponto que se vai designar por U.

Veio-me a memória todos os olhares que me tinham enviado, enquanto conduzia com o meu capuz enterrado na cabeça. Pessoas que no meio das suas ricas vidas olhavam para a distracção do momento: Eu.

Eu, que fazia como sempre, o papel do estranho, do anormal, do verdadeiro (estava frio). Este tipo de situações já é normal em mim porque, eles é que não entendem ou não querem entender, e eu estou cansado de tanto explicar ou de querer explicar.

Recordei ainda o amor…

-Ai! O amor…

O amor, mas não aquele que se fica perdidamente apaixonado, que condiciona e aprisiona a nossa vontade. É antes aquele amor que faz com que se levante o nevoeiro, que se limpe as armas, e que se saia para a rua com vontade de caminhar o seu próprio caminho.

Mas o que é certo, é que seguia um autocarro, que não tinha conseguido ler para onde ia, nem tinha piada se assim fosse, e caminhava agora sem destino.

Mas o que é que aconteceu, desde a manhã cheia de confiança até a subida da Rua da Dona Madrugada?

Ninguém sabe, nem Este que escreve esta história, quanto mais eu, que conduzia já regelado, inconsciente e cheio de vontade de chegar a casa.

Por volta das três da tarde, parei para beber um café. Na mesa ao fundo vi um casal de namorados. Ela era mais velha do que ele, supus na altura, e era recente, via-se claramente que era recente.

A dona do café olhava para mim a sorrir, e olhava para eles, e pelo canto do olho via o seu olhar reprovador. Não percebi se reprovava o meu sorriso ou a acção continua, de se fazer mostrar que se está apaixonado, do casal. Mas também não importa. Sei que assim que pus o meu pé na rua, não sorri mais.

Mais uma vez, não sei explicar, e Ele também não.

Não foi ciúme, pois não uso já há muito tempo esse tipo de disfarce. Também não foi carência, por motivos óbvios.

Mas sigo agora este autocarro, que só durante o dia é que se veste de amarelo forte, porque á noite esta cor não é tão precisa, e não penso por onde e para onde vou.

Apenas sei que estou só… sei que caminho só... e que por vontade minha não queria estar.

Mas por que é as pessoas mudam assim do nada?

Será vergonha?

Estava neste momento parado. O autocarro parou na paragem, e vejo um vulto a sair encolhido (estava frio).

-Não posso acreditar! Como é possível?

Não que tivesse fixado aquela cara. Sim! Porque não era nada de especial, mas sentia-se que tinha magia no olhar.

-É ela! A namorada do rapaz, mas está só… Aquela hora? Por onde ela andara? O rapaz já estaria em casa? Sim já deveria estar, até porque ele era mais novo que ela.

O autocarro começou a andar, e eu especado aqui a ver uma rapariga apaixonada, e bem mais nova que eu.

Ela envia um olhar furtivo para mim, e parece que me reconheceu. Seca uma lágrima. Está triste, acabou com ele? Ou ele acabou com ela? Ou será do frio?

Começa a andar mais rápido, e eu de repente percebo que posso ser comparado com o perseguidor maquiavélico, e arranco.

Mas arranco devagar, olho para o espelho retrovisor. Ela olha para mim, vá para o carro, mas era para mim.

E onde o autocarro virou á esquerda, eu viro á direita.

Perco-me nos meus pensamentos, que me levam novamente ao U.

Ainda totalmente parvo com o sucedido, estaciono a dez metros de casa e fecho o carro. Entro finalmente em casa. Dispo-me. Deito-me e penso:

“Que estranho! Eu sei que foi por acaso que nos encontrámos outra vez. Mas… e ela? Será que era destino? Se for… encontraremo-nos de novo. 

Será? Até lá… espero que aquela lágrima tenha sido do frio…”

Ele sorri… Ele adormece e o sorriso não desvanece.

27 fevereiro, 2009

* "Ele é:

Amargura; Tristeza; Desespero; Insolução; Insatisfação; Melancólico; Coerente; Preto Prata; Couro corajoso; Ambicioso limitado; Sábio; Inteligente; Iluminado; Belo; Artista; Louco; Criança.

Ele sente:

Sonhos; Desejos; Perdido; Sem Rumo; Sem Sorte; Amor-próprio; Amor ao Próximo;  Amor ao Mundo; Recalcamentos; Ensinamentos; Transportação; Alucinação; Agressividade; Distância; o EU.

Alguém complexo, exigente, que procura justificação em tudo. Tudo tem de ter uma explicação. Existe? Porquê? Tudo tem de ser sentido e usufruir do sentir.

Carrega amargura, tristeza, sente-se perdido por ruas gigantes... mas não quer sacudir as costas. Não tem coragem para a libertação da dor. Porque está habituado a ela?   Ou porque perante estes sentimentos se justificam os seus actos? Ou porque ele quer manter a sua base de rebeldia e imposição?   Ou porque ele não quer esquecer ou educar os seus recalcamentos? Ou porque ele quer ser um eterno sofredor? Prefere passar o pior dos sentimentos que o constitui em vez de passar a sua sabedoria? A sua flor? A sua essência?

É um sábio inteligente! Mas... não quer ser Mestre? Um Mestre aceita o castigo e aprende com as suas dificuldades. Não as interioriza, nem se defende com elas. Um Mestre partilha.

Sente desespero, não sabendo encontrar a solução, tornando-se insatisfeito. Estou perante alguém ambicioso mas limitado. Sonha, idealiza, mas não concretiza, não procura. Não procura incessantemente a solução para encontrar a sua satisfação, o seu estado de plenitude. Assume o seu livre arbítrio, mas não o aproveita.

Não ri... não sorri... e saboreia desesperadamente a melancolia, fazendo deste estado um estado constante e diário. Melhora por breves instantes quando sente o sol.

Aparenta coerência. Sua cor: preto prata. Sente o negro mas reluz como prata. Ilumina o mais orgulhoso. Quando lhe escapa o amor ele é simplesmente belo. É um artista em desenvolvimento. O estado louco que o caracteriza, embelezando-o.

Na boa verdade no seu mais íntimo é uma criança. Desejo de viver a criança, o sonho de criança, quer brincar, saltar, pular, dançar, rodopiar, jogar à bola, descobrir, amar, nadar, respirar, deitar na relva, subir na arvore, quer ser um pássaro com garra de leão, mas... Será cobarde? É Leão... não faz sentido. Tem sede pelo mundo. Sente-se individualista. Individualidade que traz agressividade e distancia.

Desejo que ele viva o seu verdadeiro EU, que seja o seu próprio discípulo. Faça jus à sua extraordinária capacidade. Que continue criativo mas com finalização nos trabalhos/projectos.

E há muito mais a dizer..."

* Texto convidado